Fertilização in vitro
O que é?
A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução medicamente assistida que possibilita a fertilização extracorpórea, ou seja, fora do sistema reprodutivo feminino. Este procedimento permite que óvulos e espermatozoides sejam combinados em laboratório, com o objetivo de formar embriões que serão posteriormente transferidos para o útero, viabilizando a concepção. Desenvolvida na década de 1970, a FIV revolucionou o tratamento da infertilidade, ao proporcionar uma alternativa eficaz para casais com dificuldades de concepção devido a diversos fatores.
Indicações e Critérios para a Fertilização in Vitro
A FIV é indicada para indivíduos ou casais que enfrentam problemas de fertilidade relacionados a:
Fator Tubário:Obstruções ou lesões nas trompas de Falópio, que impedem o encontro natural do óvulo com o espermatozóide.
Endometriose:Esta condição afeta a estrutura e função das trompas e ovários, dificultando a conceção.
Fatores Masculinos:Como oligospermia (baixa contagem de espermatozoides), astenozoospermia (baixa motilidade) ou anomalias morfológicas.
Anovulação e Idade Materna Avançada:Em que o número e a qualidade dos óvulos podem estar comprometidos.
Infertilidade Inexplicada:: Casos em que, apesar dos exames normais, a gravidez não é atingida após tentativas persistentes.
Fases do Processo de Fertilização in Vitro
O processo de FIV envolve diversas etapas controladas, realizadas com rigor técnico, com o intuito de maximizar a eficiência e as chances de uma concepção bem-sucedida.
1. Estimulação Controlada do Ovário
A primeira etapa consiste em estimular os ovários da mulher para que produzam múltiplos folículos, com o objetivo de aumentar a quantidade de óvulos maduros. Este processo é realizado através da administração de gonadotrofinas, como FSH e LH. Durante este período, a resposta dos ovários é monitorizada por meio de ecografias e exames hormonais frequentes. No momento em que os folículos atingem o tamanho ideal, é administrado um agente desencadeador, como a gonadotrofina coriônica humana (hCG), para induzir a maturação final dos óvulos.
2. Coleta de Óvulos – Punção Ovariana
Aproximadamente 36 horas após a administração do hCG, realiza-se a punção dos folículos, num procedimento minimamente invasivo e guiado por ecografia. A punção ovariana é realizada sob sedação leve para evitar desconforto e permite a recolha de óvulos maduros, que são imediatamente encaminhados para o laboratório de embriologia.
3. Preparação do Sêmen
No mesmo dia, o sêmen do parceiro ou de um dador é recolhido e processado em laboratório. O processamento seminal envolve técnicas de capacitação, como a lavagem e centrifugação, que permitem a seleção dos espermatozoides com melhor mobilidade e morfologia para a fertilização.
4. Fertilização dos Óvulos
A fertilização ocorre in vitro, podendo ser realizada através de duas técnicas principais:
Fertilização Convencional:Os óvulos e espermatozóides são colocados juntos numa placa de cultura, permitindo que a fertilização ocorra de forma natural.
Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóide (ICSI):Consiste na introdução de um espermatozóide diretamente no citoplasma do óvulo, sendo indicada em casos de fatores masculinos severos ou baixa qualidade espermática.
Após a fertilização, os embriões formados são mantidos em cultivo por um período de 3 a 5 dias, durante o qual são monitorizados para avaliar o desenvolvimento celular e a qualidade embriológica.
5. Seleção e Transferência de Embriões
O(s) embrião(ões) mais viável(is) é(são) selecionado(s) para a transferência para o útero da mulher. Esta transferência é um procedimento não invasivo, realizado com um cateter fino que deposita o embrião na cavidade uterina. Após a transferência, é administrada progesterona para favorecer o ambiente uterino e apoiar a fase de implantação.
6. Teste de Gravidez e Monitorização
Cerca de duas semanas após a transferência, realiza-se um teste de gravidez para confirmar a implantação e o sucesso da FIV. Se positivo, a gravidez é monitorizada de forma semelhante a uma gestação espontânea, com acompanhamentos mais frequentes no início.
Riscos, Limitações e Taxas de Sucesso da FIV
Embora a FIV tenha uma taxa de sucesso variável (cerca de 30-40% por ciclo em mulheres abaixo dos 35 anos), existem riscos e limitações, incluindo:
Gravidez Múltipla: A transferência de múltiplos embriões aumenta as chances de gestação múltipla, o que acarreta riscos obstétricos para a mãe e os fetos.
Síndrome de Hiperestimulação Ovárica (SHO):Uma resposta exagerada aos medicamentos de estimulação, causando desconforto, inchaço e, em casos graves, complicações mais severas.
Fator Emocional e Financeiro: A FIV é um processo intensivo, que pode ter um impacto emocional significativo para o casal, especialmente após falhas repetidas, além de ser financeiramente dispendioso.
Avanços e Futuro da FIV
Os avanços científicos têm melhorado as taxas de sucesso da FIV, incluindo:
Testes Genéticos Pré-Implantação (PGT)**: Permitem a análise genética dos embriões para detectar anomalias cromossómicas antes da transferência, aumentando as chances de um embrião saudável.
Vitrificação: Técnica de congelamento ultrarrápido, que preserva embriões e óvulos para uso futuro, sendo vantajoso para mulheres que desejam adiar a gravidez.
FIV de Baixa Estimulação:Protocolo que utiliza doses reduzidas de hormonas para minimizar os riscos de SHO e efeitos secundários, especialmente indicado para pacientes sensíveis ou com baixa reserva ovariana.
A fertilização in vitro representa um avanço significativo na medicina reprodutiva, proporcionando novas possibilidades para casais que enfrentam infertilidade. A constante evolução desta técnica, com novos protocolos e métodos de diagnóstico, oferece um caminho promissor para melhorar as taxas de sucesso e a segurança do procedimento, tornando-o cada vez mais acessível e eficiente.